A voz é o começo do mundo do lado de fora.
Sozinha cantarolo aos ventos pra fazer o meu corpo se mover com as palavras que saem do peito. É esse murmurar que aquece os meus ouvidos que começam a gostar de ouvir para onde vamos. Ensaio e danço. Tudo o que quero, sinto e posso.
Em voz alta, para a matéria ouvir a alma.
Mas é quanto o outro entra no salão que as ideias, ânsias e vontades são colocadas à prova. O fôlego vira toda a munição de que preciso. É o som que vai anunciar minha presença, contar das coisas bonitas que vivi e formular o riso que cabe entre nós. Os verbos ditam meus limites, relatam os meus por quês e definem o sujeito do presente.
Os ruídos também são as âncoras dos meus desejos. Parece que a voz é o que marca minha existência fora do corpo. Prepara o terreno e conquista o mapa avisando ao mundo os passos que darei logo em seguida. Pois eu vou.
Ação é o que confere sentido para o resto. Batalhas completamente diferentes e inegavelmente complementares.
Passo e som.
Cordas vocais compartilham os sonhos que me sobem a garganta para nascerem na ponta da língua. Depois é semear essa ideia por todas as outras partes do corpo que irão me mover naquela direção.
E se me divido contigo em voz alta é por que te quero parte. Nas conversas que se seguem, vamos nos fazendo existir ao mesmo tempo. Regando o externo com o que já existe do lado de dentro, para em breve virar flor.