A nostalgia dos anos 2000
Fui a criança que tentou incansáveis vezes manter um diário. Escrevia por uma semana, depois começava a esquecer um dia ou outro e por fim largava de lado por achar que já tinha estragado a lógica de incluir esse hábito na minha rotina. Quem nunca?
Só agora na vida adulta que eu entendi que quem faz a regra da coisa sou eu e isso foi libertador.
Sigo chamando de diário pois é a palavra mais direta que faz as pessoas entenderem o propósito autoral, livre e descompromissado do meu registro e escrita. Mas pouco importa como ou quando eu vou tirar um tempo pra isso.
O que me faz registrar a vida assim?
Desde cedo entendi que usar as mãos faz com que eu guarde com mais afinco todo e qualquer conteúdo. Isso valeu e muito para os tempos da escola com meus resumos quilométricos de todas as matérias.
A vida foi acontecendo e eu vi que minha memória não era lá das melhores até pras coisas boas. Me pego esquecendo encontros super legais, momentos marcantes de viagens e deletando completamente a visualidade de muitas lembranças gostosas. Então por que não marcá-las no papel?
No meio disso tudo descobri que a escrita também me fazia muito bem emocionalmente. Ter que organizar sentimentos em palavras e frases me ajudava também a colocar o peito em ordem, encontrando descrições mais precisas para o que eu de fato estava sentido.
Voltar a usar os diários como uma ferramenta de autoconhecimento e expressão criativa me colocou em contato muito mais íntimo com as coisas que eu te fato acredito e valorizo.
E quando bate o desânimo? :/
Sim, dá preguiça de sentar e escrever direto! Principalmente se o assunto específico que quero registrar já aconteceu a algum tempo ou quando o tema é complexo e sei que levaria páginas para descrever tudo.
Foi aqui que as colagens entraram na minha vida de registros, fazendo as vezes das frases e resumindo visualmente meus sentimentos. Costuma levar o mesmo tempo que só escrever, mas ter esse estímulo diferente sempre me acende uma nova vontade de eternizar a vida.
Acabei descobrindo que misturar mídias é a minha praia. Folhear as páginas e me deparar com colagens, recortes de lembranças cotidianas, textos, poemas, cartas nunca entregues e fotos perdidas do rolo de câmera do celular... tudo isso faz a minha experiência se tornar completa. Quase não leio as coisas que escrevo, mas bater os olhos nos cadernos já é uma viagem no tempo por si só.
O que eu quero dizer é que você não precisa fazer do mesmo jeito sempre e que fica muito mais fácil contornar o desânimo se você se deixar levar pelo processo que te dá mais prazer :)
O lugar da imperfeição
Sempre que posto fotos de algumas páginas dos meus diários, recebo mensagens de pessoas dizendo que não sabem como fazer igual, ou que têm medo de "estragar" o caderno em algum momento. Mas o maior exercício pra me libertar do perfeccionismo criativo foi justamente o de ver aquele espaço como o lugar mais seguro que terei na vida. Tanto pra errar quanto pra criar minhas artes mais sinceras.
Num geral, ninguém vai ver o que você resolver guardar ali. Então vale fazer uma forcinha pra desapegar da cobrança de fazer algo bonito e "perfeito". Esse não é o propósito da coisa. Meus diários são registros do que eu vejo, vivo e sinto. A gente esquece é que nem sempre essas experiências são agradáveis. Por que com as páginas seria diferente?
Tá tudo certo não amar todas as composições. Com o tempo a gente aprende a olhar com mais carinho pra essas folhas e entender que elas também fazem parte do relato da nossa história.
Só faça!
Um exercício que fiz muito quando comecei a misturar colagens e textos nesses registros, foi o de colocar no papel a primeira coisa que me passasse na cabeça. Pensou em usar uma caneta verde? Pegue-a e se obrigue a usá-la. Sem pensar em bonito ou feio. E isso vale para qualquer elemento, seja ele uma frase, uma imagem ou um recorte.
Se no decorrer da criação surgir outra ideia, ou você genuinamente não tiver gostado do resultado, sempre dá pra cobrir com alguma coisa e recomeçar do zero. Mas minha sugestão é a de você começar a conversar com sua intuição e ver o que surge dali. As chances de você se surpreender com as criações são enormes!
Com o tempo fui perdendo o medo de fazer escolhas mais intencionais, mas sem abrir mão dessa sede de experimentação. Aprendi a escutar o coração por que ele, por si só, também tem muita vontade de criar. Nem tudo precisa ser racional e é aqui que mora a mágica.
No futuro sei que vou poder olhar pra trás e ver pequenos retratos de mim mesma materializados em diferentes formas de expressão. Todas perfeitamente imperfeitas e genuinamente minhas.
Gosta desse assunto?
Então fica aqui o compilado de conteúdos que tenho sobre meus diários lá no instagram: Stories | Publicações
Nos vemos na sessão de comentários ;)
Até breve!
Eu tô gostando muito dos seus textos! Tenho me identificado muito e sentindo amiga (loucura? haha). Uma dúvida/curiosidade: pras colagens físicas, você tem um acervo de revistas, revela fotos, como que faz pra ter o material?
Você me inspira tanto Carolina, principalmente na forma de olhar a vida! Obrigada por compartilhar seus pensamentos e reflexões conosco <3